quinta-feira, 18 de julho de 2013

O "trabalho na obra"!!!

por Anderson Loureiro

Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada. (Lucas 10:38-42)

Temos diante de nós uma porção das Escrituras bastante conhecida da maioria dos cristãos. Acredito que esta passagem tem muito a nos ensinar acerca de nossa relação com o que ficou comum denominar de "obra de Deus". Fala-se muito em "fazer a obra", "trabalhar na obra", ser "ativo na igreja". Numa igreja local há até quem faça distinção entre os "membros ativos" e os "membros passivos". Os membros ativos, acredita-se, são aqueles que tem os "cargos". São os membros ilustres, importantes, destacados. Acredito que precisamos de apenas um mínimo de discernimento espiritual para percebermos o erro desta maneira de pensar!

O texto nos diz que Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Marta era "mil e uma utilidades"! Fazia um serviço aqui e outro ali! Impressionante! Ela fazia de tudo! Não realizava apenas um serviço. Ela estava ocupada em muitos serviços. Se Marta vivesse em nossos dias, muito provavelmente ela teria um currículo e tanto! Provavelmente teria cursado uns quatro cursos do nível superior, doutorado em pelo menos dois deles, e ao menos dois empregos. E ainda teria tempo para ter um cargo na igreja local! Vivemos num mundo que possui uma mentalidade igual a de Marta. Este é um tempo pragmático. As pessoas mais valorizadas são aquelas que fazem mais, produzem mais. Aquelas que conseguem "mostrar serviço" são as que receberão a promoção! Como já disse na introdução, esta mentalidade tem adentrado à "comunhão dos santos", infelizmente.  Sem se aperceberem, alguns cristãos tem permitido que o adversário os engane fazendo-os acreditarem que, ao se destacarem dos demais irmãos, estarão agradando mais ao Senhor. Isto quando não estão, de fato, tão entorpecidos no entendimento que tudo o que desejam são os aplausos, a aprovação dos homens. 

Nesta situação de engano espiritual, o próximo passo será começarem a se comparar com os outros membros de sua congregação. Marta chama a atenção do Senhor para o fato de Maria não estar trabalhando tanto quanto ela: - Veja, Senhor, o quanto eu tenho me afadigado para te servir. Estou fazendo tanto pelo Senhor! Agora, veja Maria! Não faz nada! Só fica aí sentada diante do Senhor. Talvez Marta desejasse um elogio do Senhor. E quantos de nós não tomamos esta mesma postura! "Eu faço tanto, e os outros não fazem nada!" muitos exclamam fazendo coro com o fariseu. Me refiro àquele que subiu ao templo para mostrar suas "credenciais" a Deus, enquanto se comparava com o pobre pecador publicano!

Esse tipo de mentalidade progride (regride seria melhor) mais um passo. Ele leva a pensarmos que todos os outros membros devem fazer a mesma coisa que estamos fazendo, e além disso, com a ressalva de que sejam nossos ajudantes! Não foi isso que Marta disse? Trovejou ao Senhor: "Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me! " Me faz lembrar o problema que Paulo estava corrigindo na igreja de Corinto (1 Co 12-14).

O que precisamos perceber é que esse tipo de engano quer levar-nos a tornar o serviço ao Senhor como um fim em si mesmo. De uma maneira mais clara, o amor que deveria ser direcionado ao Senhor por meio do serviço com o intuito de glorificá-lo, acaba sendo direcionado ao serviço supostamente ao Senhor, para a nossa própria glória! A ironia de tudo isso é que, comparando-se Marta e Maria, percebemos que a que "menos trabalhou" é a que reteria o que havia recebido. A melhor parte não seria retirada de Maria. Marta, por sua vez, não receberia nada por ter tentado mostrar "tanto trabalho". Esse é veredito do Mestre!

No capítulo 6 de João lemos que algumas pessoas perguntaram ao Senhor: "Que faremos para realizar as obras de Deus?" (vs. 28) Como o Senhor lhes respondeu? "A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado."(vs. 29) Maria fez exatamente isto. Ela estava ali, aos pés do Senhor, recebendo o ensino que a capacitava a crer, e a amá-lo. Ela estava desfrutando da Sua graça, desfrutando da Sua presença. Temos que entender que algumas "obras para Deus" tem o poder de nos afastar da presença dEle! Maria consequentemente iria servi-lO, sim, iria trabalhar para Ele. Mas precisava fazer isso a partir de uma vida que começava aos pés dEle, em submissão a Ele, em amor por Ele, na força do Espírito do Senhor! Dessa forma ela poderia trabalhar e servir não apenas ao Senhor, mas também aos seus irmãos! (Marta nem se deu conta que poderia amar e servir Maria também! Ela só pensou em "servir o Senhor") Como disse Leonard Ravenhill: "Só existe um jeito de fazer a obra de Deus. É da maneira de Deus!" O verdadeiro trabalho ao Senhor é feito humildemente, pois é feito, não com a nossa força e para a nossa glória, mas na força do Senhor, para a Glória do Seu Nome! Amém.

Um comentário:

  1. Muito bom meu irmão. Serviço sem comunhão, é antiserviço com cara de serviço.

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